
No que você pensa quando esta frase lhe vem em mente de forma súbita? Um tapa na cara? É verdade, pra muitos vai soar como um (ou não). A mesma frase que introduz a mais recente música da minha banda: "A imagem, seu reflexo" (que também remete outros contextos). Frase esta provém de uma reflexão minha diante de textos/discursos/letras que li, fazendo portanto uma "mesclagem" dos mesmos incluindo o texto "Visibilidade e espetáculo" de Maria Rita Kehl (Psicanalista); e um dos capítulos do livro "Criatividade - Psicologia, educação e conhecimento do novo", "Cap.4 - Criatividade no mundo contemporâneo" do sociólogo José Sterza Justo; discursos do Rodrigo Ponce (ex letrista/vocalista da banda colligere/filósofo), e letras do próprio colligere.
Sem me delongar mais, vamos ao foco: produção e reprodução no contexto da sociedade contemporânea. E você, que está lendo este texto agora, produz ou reproduz? É até estranho pensar nisso, porque se formos pensar de forma instântanea, não conseguimos remeter isso a nada no âmbito da nossa vivência, das nossas percepções e escolhas. Mas isso ficou um pouco mais claro pra mim após ouvir (e depois repassar para o computador) um discurso do ex vocalista/letrista do colligere, Rodrigo Ponce, eis o discurso:
"Hardcore sempre é uma coisa sobre reafirmar sua identidade, sobre fazer você mesmo, sobre ser você mesmo, sobre não se alienar. Mas sempre na maior parte dos momentos da sua vida, do seu cotidiano, você está alienado, você não é você mesmo. Você reproduz discursos, você reproduz estímulos, você reproduz comportamentos, no trabalho, e não tem como ser de outro jeito, vai ser sempre assim. O que que é ser você mesmo, então, no meio desse mundo onde a gente está apenas reproduzindo cultura? Talvez seja.. se apropriar daquilo que se reproduz de uma forma original, é como aquilo que todo mundo disse pra você mesmo, então aquilo vai ser seu, enquanto isso, você é só uma cópia.''
Rodrigo Ponce
Portanto, levando isso pra uma reflexão pessoal, eu poderia dizer que a questão de produzir ou reproduzir é um tanto polêmica, porque hoje em dia todo mundo reproduz, até os conscientes. A mídia produz mensagens as quais são absorvidas pelas pessoas como única verdade (reprodução em massa)

Mesmo as pessoas conscientes reproduzem (menos que as não conscientes) pois vivemos numa sociedade baseada nisso, a dita ''sociedade do espetaculo'', porém os conscientes, cientes de que as mensagens manipulam, reproduzem de uma forma original, se apropriando daquilo que os é habitual de uma forma original. O que seria então se apropriar daquilo que nos é habitual de
uma forma original? Todos nós reproduzimos certo? Correto! Então: podemos nos apropriar de uma reprodução (seja ela em qual contexto for - estímulos, comportamentos, no trabalho, meios midiáticos, nos estudos, etc) de uma forma original, ou seja, sabendo que a informação chegará até nós de determinada forma, devemos crer nela sob nossos moldes, sob nossa consciência, sob nossa verdade, e assim prezar por nossa crítica perante a forma como tudo isso foi moldado. E assim não seremos uma cópia que reproduz de forma contínua, e sim estaremos reproduzindo de uma forma original, o que se aproxima de uma "produção", apesar de utópica.
Eis mais um verso, este do sociólogo José Sterza Justo:
"Nunca foi tão importante criar ("produzir"), seja para acompanhar a onda da modernidade ou para confrontar-se criticamente com ela"
José Sterza Justo - "Criatividade - Psicologia, educação e conhecimento do novo" pág. 63
O importante é sempre manter a auto-crítica, e a crítica perante tudo que nos cerca, que nos molda, que quer nos esmagar, nos engolir! Se não, iremos apenas respirar e ver tudo passar, e quando percebermos, seremos apenas robôs padronizados, não guiados por nossas próprias pernas. Nós somos senhores do nosso próprio destino, quem vai mudar nossa sina, se não nós
mesmos?
Para concluir, me apoiarei sob versos que o próprio Rodrigo Ponce escreveu, versos de uma letra do colligere intitulada "Falso".
''Trago aqui as idéias que me formaram,
mas esta forma também pode criar novas escolhas
Lendo os fatos, produzo conseqüências
Posso criar uma nova leitura
E o verbo então se fará carne ou toda pele será como espelho?
E a paixão de um novo modo pode brilhar sobre essas palavras gastas?''
Rodrigo Ponce
No mais, quem quiser dar uma olhada na minha letra "A imagem, seu reflexo", cuja frase de introdução é justamente a que nomeia este texto, aí vai o link: http://letras.terra.com.br/faina/1405955/